07 outubro 2009

QUANDO A ARTE É TERAPIA, QUANDO A TERAPIA É ARTE... A ARTE TRANSFORMA E AS TRANSFORMAÇÕES VIRAM CULTURA e VIDA...

Viagem pela inconsciência. Saiu na ZERO HORA - RBS. 06 de outubro de 2009 | N° 16116
ARTES . Viagem pela inconsciência
Pesquisa cataloga imagens produzidas ao longo dos últimos 20 anos por pacientes do Hospital São Pedro

A lojinha da Fundação Iberê Camargo, na Avenida Padre Cacique, zona sul de Porto Alegre, passa a oferecer, entre livros de arte e souvenires elegantes, uma série de camisetas com estampas singulares. O que se vê ali é a reprodução de desenhos realizados por duas internas do Hospital Psiquiátrico São Pedro, uma delas já falecida.

O São Pedro, no bairro Partenon, tido como o centro geográfico da Capital, é o mais antigo hospital psiquiátrico em atividade no Estado, inaugurado 125 anos atrás. Ali funciona há quase duas décadas uma Oficina de Criatividade, em que se exercitam tanto pacientes temporários quanto aqueles internados em caráter definitivo – já sem família e sem lugar para onde ir, remanescentes da época dos manicômios, quando vigorava a cultura do isolamento.

Na Oficina, com acompanhamento de professores de arte, psicólogos e estudantes, eles são convidados a dar vazão, de forma criativa, àquilo que atormenta suas mentes. O modelo é o do célebre Museu de Imagens do Inconsciente, criado em 1952 por Nise da Silveira, no Rio de Janeiro, como alternativa a tratamentos como o eletrochoque e a lobotomia.

Tudo o quanto se produz na Oficina do São Pedro é preservado. Nada se descarta. Ao longo de quase 20 anos, um material estupendo se formou ali, com cerca de cem mil itens – na maioria, desenhos. A novidade é que esse acervo vem sendo cuidadosamente catalogado. Durante anos, ele foi apenas acumulado. Agora, pouco a pouco, é revisado, separado, fichado. Daí emerge a percepção de que, em meio a obras criadas com finalidade, em última instância, terapêutica, há obras de refinada invenção, admiráveis pelos padrões estéticos contemporâneos.

As camisetas à venda desde quinta-feira na lojinha da Fundação Iberê são apenas o índice de um trabalho maior – que vai da produção de imagens sensíveis à atenção que um olhar aplicado pode lançar para elas. As camisetas estão à venda por R$ 47 cada. Parte da renda reverte para a Oficina, outra parte para a autora dos trabalhos, Natália Leite, 66 anos, internada desde novinha no Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Dependendo da aceitação das primeiras camisetas, novas estampas serão oferecidas. A grife poderá se estender a xícaras, copos e blocos de anotações. EDUARDO VERAS

Nenhum comentário:

Postar um comentário