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Serenidade de médicos e pacientes beneficia também os familiares
Noite da sexta-feira 30 de abril. Flávio Steffens de Castro, 30 anos, recebe a confirmação de que a dor que o acompanha há alguns dias é mais séria do que imaginava. Com dificuldade de percorrer as veias, o sangue havia coagulado no pé esquerdo, o que poderia acarretar consequências sérias, como o deslocamento do coágulo pela corrente sanguínea, comprometendo a circulação em veias do cérebro e do pulmão.
O diagnóstico de trombose interrompe planos imediatos – envolvia-se com os preparativos para a abertura da própria empresa, reencontraria velhos amigos em um casamento e passaria o fim de semana com a noiva –, mas não abala o humor do gerente de projetos na área de informática.
Cinco horas depois de chegar, Flávio é levado para um quarto no oitavo andar do Hospital São Lucas, na Capital. É o início de uma internação que mudaria o jeito de ver a vida
– A primeira sensação é a pior. Pensei: “Esse é o meu fundo do poço”. Mas logo busquei melhorar o humor, principalmente para acalmar meus pais – recorda.
– A primeira sensação é a pior. Pensei: “Esse é o meu fundo do poço”. Mas logo busquei melhorar o humor, principalmente para acalmar meus pais – recorda.
Depois do baque, Flávio decidiu encarar a experiência como uma condição temporária. Passou a extravasar as emoções com a ajuda do inseparável computador portátil conectado a um modem 3G – foram horas a fio nessa prática sedentária que, possivelmente, contribuíram para o aparecimento da trombose.
Por meio do Twitter, o porto-alegrense expôs a rotina hospitalar em 450 microtextos (depois compilados no blog www.fuiprohospital.wordpress.com). Nem a limitação de 140 caracteres por vez foi capaz de aplacar o bom humor. Os relatos espirituosos logo atraíram a atenção de centenas de pessoas. E não faltou assunto durante o período da internação, que seria de cinco dias, mas acabou prolongado em mais 10 por causa de uma infecção.
Por meio do Twitter, o porto-alegrense expôs a rotina hospitalar em 450 microtextos (depois compilados no blog www.fuiprohospital.wordpress.com). Nem a limitação de 140 caracteres por vez foi capaz de aplacar o bom humor. Os relatos espirituosos logo atraíram a atenção de centenas de pessoas. E não faltou assunto durante o período da internação, que seria de cinco dias, mas acabou prolongado em mais 10 por causa de uma infecção.
O paciente detalhou o relacionamento com os vizinhos que se revezavam no leito ao lado (cinco no total) e a equipe médica, além das evoluções e das recaídas. Também não faltaram textos sobre a programação televisiva, a comida do hospital, a medicação e a expectativa com a alta.
Flávio passou a ver com outros olhos a atuação de médicos e enfermeiros. Ficou encantado com a forma como eles se mantêm positivos em um ambiente marcado por dor e sofrimento. Para o gerente, que agora continua o tratamento em casa, encarar a situação com alto-astral fez toda a diferença:
– O bom humor é contagiante. Ilumina o ambiente, traz novas perspectivas de encarar a vida e os problemas. Ansiedade e preocupações acabam tendo consequências diferentes. As pessoas com quem nos relacionamos são tocadas por esse sentimento e também mudam.
Acostumado ao ambiente hospitalar desde os seis anos, Eduardo Scherer, 20 anos, também é um exemplo de alto-astral em meio às adversidades. Para evitar o comprometimento dos movimentos da boca decorrentes de uma má-formação congênita no rosto, o que poderia afetar principalmente a fala, o universitário foi submetido a uma série de cirurgias, que teve início ainda na infância.
– Nunca encarei isso como um problema, nunca deixei que me atrapalhasse. Sempre tentei ver o lado bom das coisas. Existem pessoas com problemas maiores que os meus – conta.
Morador de Cachoeira do Sul, na Região Central, Eduardo é considerado um exemplo de motivação para amigos, familiares e médicos. Com o acompanhamento recebido ao longo de mais de 12 anos, conseguiu superar o problema e hoje leva uma vida normal. Cursa o terceiro semestre de Direto e faz estágio no Fórum local.
O que dizem as pesquisas
Estudo da Universidade de Negev, de Israel, divulgado na revista científica BMC Cancer, mostra que o otimismo é fator de proteção contra o câncer de mama. A pesquisa apontou que mulheres deprimidas, pessimistas e que sofrem baques emocionais, como separação ou perda de familiares, têm mais chances de desenvolver a doença em comparação às demais.
Publicada na revista americana Annals of Family Medicine, uma pesquisa revelou que homens otimistas estão mais protegidos contra doenças do coração. Cientistas acompanharam quase 3 mil homens ao longo de 15 anos e perceberam que a possibilidade de mortes por infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) é três vezes menor entre os mais confiantes sobre sua condição de saúde.
Publicada na revista americana Annals of Family Medicine, uma pesquisa revelou que homens otimistas estão mais protegidos contra doenças do coração. Cientistas acompanharam quase 3 mil homens ao longo de 15 anos e perceberam que a possibilidade de mortes por infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) é três vezes menor entre os mais confiantes sobre sua condição de saúde.
O pensamento positivo é um aliado contra a dor nas costas, conforme pesquisa divulgada pelo Journal of the American Medical Association. Cientistas apuraram que os pessimistas que sofrem de dores lombares têm maior tendência a não realizarem atividades físicas, o que leva à piora dos sintomas. Os otimistas teriam mais chances de se recuperar por sentirem menos medo de praticar atividades nos momentos de dor
Curado, o pessimista parece continuar doente
Curado, o pessimista parece continuar doente
Comprovado em estudos internacionais como fator de proteção contra enfermidades, o otimismo é o grande aliado dos profissionais da saúde que atuam em hospitais. Enfermeiros, psicólogos e médicos constatam, no dia a dia, que pacientes de bem com a vida respondem melhor ao tratamento e apresentam menos efeitos colaterais aos medicamentos.
Oncologista dos hospitais Fêmina e Moinhos de Vento, na Capital, Daniela Dornelles Rosa observa que mulheres que se preparam para enfrentar positivamente o câncer de mama têm resultados benéficos mais rápidos em comparação às menos confiantes. Segundo a médica, os efeitos colaterais e o sofrimento são menores entre aquelas que acreditam que a situação é passageira e superável.
– Mesmo curadas, algumas pessoas com uma visão mais pessimista parecem continuar doentes. Outras que ainda não terminaram o tratamento ou que têm um câncer mais avançado, muitas vezes, não parecem doentes, pela maneira como enfrentam os problemas. É bem interessante o impacto dessas diferentes visões na qualidade de vida das pacientes – diz Daniela.
O pessimismo é reflexo da personalidade, da debilidade causada pela doença e da carência emocional, entre outros fatores. Nas enfermarias, ganha espaço a psicologia hospitalar como forma de combater a negatividade e tornar mais eficientes as medidas curativas. A psicóloga Maria Estelita Gil, do Hospital São Lucas, diz que o fundamental é o profissional se imaginar na condição do paciente.
– O segredo é a empatia na relação do médico ou enfermeiro com o paciente. No momento em que ele se sente acolhido, começa a verbalizar o que sente, e isso ajuda a reforçar os pensamentos positivos – avalia Estelita, que com frequência depara com pacientes resistentes a aderir às prescrições médicas.
Nem sempre o mau humor está no paciente. Familiares, às vezes, demonstram maior abalo emocional, necessitando de suporte. Identificada a situação, os hospitais acionam áreas de apoio para suporte psicológico ou psiquiátrico, assistência social e religiosa, entre outras.
Nem sempre o mau humor está no paciente. Familiares, às vezes, demonstram maior abalo emocional, necessitando de suporte. Identificada a situação, os hospitais acionam áreas de apoio para suporte psicológico ou psiquiátrico, assistência social e religiosa, entre outras.
Para estimular os bons pensamentos, os profissionais se preparam e se mobilizam. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), enfermeiros se reúnem periodicamente para avaliar o que pode ser melhorado no atendimento. As rodas de conversa no chamado Espaço da Alma se baseiam em três pilares: cuidado, saúde e espiritualidade. A enfermeira Marcia Weissheimer, que atua no bloco cirúrgico do HCPA e participa dos encontros, explica que a ideia é transmitir ao paciente uma sensação de bem-estar, que significa mais do que otimismo.
O hospital aposta em ações de relaxamento e lazer para manter o astral da equipe em alta. Por exemplo, na semana do Dia do Enfermeiro, em maio, foram promovidas atividades como massagem, dança, ioga e meditação. A iniciativa se repete em outros momentos do ano.
– Criamos um grupo de trabalho para tentar implementar isso, dentro do hospital, para os pacientes também, já que somos um centro de saúde. A ideia é integrar outras práticas relacionadas ao otimismo e à qualidade de vida que mais se encaixam para o paciente – informa Marcia.
– Criamos um grupo de trabalho para tentar implementar isso, dentro do hospital, para os pacientes também, já que somos um centro de saúde. A ideia é integrar outras práticas relacionadas ao otimismo e à qualidade de vida que mais se encaixam para o paciente – informa Marcia.
Se você está internado
-Confie na equipe multidisciplinar que o acompanha.
-Esclareça dúvidas sobre o diagnóstico e o tratamento, evitando fazer perguntas para leigos.
-Considere suas próprias impressões e perceba se o tratamento é bom para você. Se não for, converse com os especialistas.
-Atenha-se a algo em que acredita (espiritualidade ou religiosidade) para tornar mais leve a passagem pelo hospital.
-Deixe o relógio em casa.
-Procure grupos de apoio que atuem sob supervisão de profissionais de saúde.
-Mantenha, na medida do possível e de acordo com as recomendações, suas atividades de rotina (trabalho, lazer, esportes).
-Ouça suas músicas preferidas. Preencha o tempo fazendo algo de que goste.
-Respire fundo. Viva com tranqüilidade e não leve tudo tão a sério.
-Imagine-se já em casa, retomando a rotina e bem de saúde
Se você é familiar
-Faça visitas para compartilhar algo bom: uma história divertida, uma novidade.
-Faça visitas para compartilhar algo bom: uma história divertida, uma novidade.
-Esteja presente, mesmo se quando dispor de pouco tempo.
-Deixe assuntos delicados e difíceis para depois da alta.
-Não transforme o quarto do hospital na sala de casa. Evite conversar em voz alta.
-Respeite os pacientes que dividem o mesmo quarto. Eles não são obrigados a compartilhar discussões familiares do vizinho de leito.
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